quarta-feira, 20 de maio de 2015

Rins - Anatomia, Fisiologia e correlação clínica

              Rim é um órgão retroperitoneal que fica entre as vértebras L1 e L4, com aproximadamente 12 cm, peso de 150g. O rim direito é situado um pouco abaixo que o rim esquerdo, e este último possui um cm a mais que o rim direito. Ele é dividido macroscopicamente entre córtex e medula.
         Os rins possuem correlações anatômicas superiormente com o diafragma, que os separa das cavidades pleurais e do 12º par de costelas; inferiormente as faces posteriores do rim estão relacionadas com o músculo quadrado do lombo. Nervo e vasos subcostais e os nervos íleo-hipogástrico e ileolongitudinal descem diagonalmente através de suas faces posteriores. Fígado, duodeno e cólon descendente estão situados anteriormente ao rim direito. O rim direiro é separado pelo fígado pelo recesso hepatorrenal. O rim esquerdo está relacionado com o estômago, baço, pâncreas, jejuno e cólon descendente.


              Na parte medial côncava de cada rim existe o hilo renal (fenda vertical) nele a artéria renal entra e a veia e a pelve renais deixam o seio renal; a veia renal está anterior a artéria renal, está é anterior à pelve renal. Hilo é a entrada para o espaço intrarrenal (seio renal). O seio renal é constituído da pelve renal, cálices, vasos, nervos e gordura.


            Cada rim tem margem anterior, posterior, medial (côncava) e lateral (convexa), e pólos superior e inferior. Os ureteres são constringidos em três lugares: 1) junção uretero-pélvica renal; 2) onde os ureteres cruzam a margem da abertura superior da pelve; 3) durante sua passagem através da parede da bexiga urinária; estes locais são muito propensos à obstrução por cálculos uretéricos (renais).
         Córtex renal: contém glomérulos, túbulos contorcidos proximais e distais, portanto é o local de filtração sanguínea (plasma). A Medula contém: as alças de Henle e túbulos coletores que se abem para as papilas dos cálices.


        A medula renal não possui muita vascularização que é importante para mecanismos de trocas de eletrólitos durante a formação da urina; este fato explica os casos de necrose tubular aguda (Insuficiência renal) e também os afoiçamentos (anemia falciforme).

        Néfron – menor unidade funcional de um rim; classificados em corticais, medicorticais e justamedulares, localizados respectivamente na porção externa do córtex; córtex interno e na zona de transição entre córtex e medula. Produz o filtrado glomerular cujo processamento é realizado pelos túbulos renais, onde vai ocorrer reabsorção ou eliminação de sais e água, que são denominados de túbulo proximal, alça de Henle, túbulo distal e ducto coletor. O corpúsculo de Malpighi é formado pelo capilar glomerular e o envoltório da cápsula de Bowman.
       Sustentando os capilares estão as células mesangiais que, além de conter elementos contráteis e fagocitar agregados moleculares presos à parede do capilar devido à filtração, tem papel na regulação hemodinâmica intraglomerular. O endotélio do capilar glomerular tem fenestrações que não permitem a passagem dos elementos figurados do sangue. E entre o capilar e a cásula de Bowman, existe o espaço de Bowman que é o local onde se encontra o filtrado glomerular. A parede externa da cápsula forma o revestimento do corpúsculo renal com epitélio simples pavimentoso, já a parede interna apresenta células modificadas chamadas de podócitos, que formam canais alongados chamados de fendas de filtração. Na filtração glomerular o plasma atravessa três camadas: endotélio capilar, membrana basal e parede interna da cápsula de Bowman que vai determinar as propriedades de permeabilidade do glomérulo.


       Aparelho Justaglomerular é formado pelo túbulo contorcido distal em contato com o seu glomérulo e as suas respectivas arteríolas aferente e eferente. As células justaglomerulares são células epiteliais cúbicas que são modificações da porção média da arteríola aferente , são essas células que secretam renina na corrente sanguínea na luz da arteríola aferente, a renina é uma enzima que participa do SRAA e tem papel no balanço de Na+ e água, e, por meio da angiotensina II, regula o fluxo sanguíneo renal e o ritmo de filtração glomerular. Células da mácula densa se situam na parede de túbulo contorcido distal, elas estão em contato íntimo com células glanulares da arteríola aferente. O aparelho justaglomerular exerce influência na pressão e fluxo sanguíneos e no volume fluido extracelular, por meio de modificações do ritmo de filtração glomerular e da liberação de renina na circulação.
           Os glomérulos filtram 120 - 180ml/min (clearence); o filtrado cai na cápsula de Bowman e segue para os túbulos, parte dele é absorvida (1 – 3 L/dia). Nos túbulos ocorre a reabsorção tubular, não faz uso de eletrólios necessários e secreção tubular de eletrólitos k+ e H+.


        Túbulo contorcido proximal é responsável pela reabsorção de 2/3 do filtrado (água e sódio). A absorção de sódio ocorre pela via ativa pela bomba de Na+/K+  ATPase e também ocorre troca de ânions como Cl- e bicarbonato que participam do processo. É também ali que ocorre secreção de substâncias ácidas como Ácido Úrico e antibióticos.
       Na alça de Henle ocorre 25% da reabsorção do Na+ filtrado, também ocorre o mecanismo contracorrente que realiza o controle da osmolaridade. A parte descendente é permeável a água e impermeável ao soluto e a parte ascendente é permeável ao soluto e impermeável À água o que mantem o meio hipertônico, é neste pedaço da alça que o carreador Na+k+2Cl- (conhecido como NKCC2) atua.
           No túbulo contorcido distal apenas 5% de líquido e Na+ são reabsorvidos, neste local se encontram carreadores de NaCl que são inibidos por ação de tiazídicos (Hidroclorotizida), também é localizada a mácula densa onde o PTH atua e acaba por realizar a reabsorção de Ca+2.
      No túbulo coletor ocorre o ajuste fino na absorção e excreção hidroeletrolítica, sofre ação da aldosterona que provoca a reabsorção de água e Na+ e secreta k+ e H+. o filtrado chega ao túbulo coletor hiposmolar e vai se concentrando a medida que avança sobre a papila renal. Também é o local que sofre ação do Hormônio Antidiurético.


        A avaliação laboratorial da função renal é realizada através do exame de urina que vai verificar os seguintes parâmetros: pH, que normalmente fica entre 5 e 6, se a urina estiver alcalina existe a sugestão de infecção (principalmente E. coli e Klebsiella) ou uma hipervitaminose por vitamina C, se estiver ácida podem sugerir doenças renais. Bilirrubinúria sugere doenças biliares ou hemólise e a presença de Leucócitos e nitritos também sugerem infecção, no entanto é necessário lembrar que alguns patógenos não convertem nitrato em nitrito, como é o caso do Streptococcus faecalis, Neisseria gonorrhoeae e Mycobacterium tuberculosis.outros parâmetros verificados são a presença de Glicose e corpos cetônicos, hemoglobina (quando associada a ausência de hemácia sugere hemólise), mioglobina significando a presença de rabdomiólise.
        Densidade urinária geralmente varia entre 1003 e 1030 e pode estar associada ao estado de hidratação do paciente. Proteinúria quando normal varia, mas pode chegar até 150 mg/dia e cerca de 30 a 50mg são de mucoproteína de Tamm-Horsfall. O sedimento urinário pode acusar presença de células tubulares renais ou células do tipo escamosas e transicionais, o que indica ser células do trato urinário inferior. A presença de cilindros ajuda a diferenciar entre uma doença glomerular e doença do trato urinário. Os cilindros podem ser dos tipos: 1) hialino, quando há precipitação de proteína no lúmen tubular (Tamm-Horsfall); 2) epitelial, quando é formado por células epiteliais tubulares que podem se deformam e formar os cilindros granulosos; 3) cilindros leucocitários e 4) cilindros gordurosos, que indicam hipercolesterolemia.
Ainda no exame de urina pode haver a presença de cristais de oxalato (de cálcio), ácido úrico, fosfato, estruvita (fosfato, amoníaco e magnésio), esta última é associada à infecção por Pseudomonas e Klebsiella.
             Para realizar prova de função renal se faz a conta de Crockcroft, que é calculada pela fórmula:
(140-idade) x Peso/ 72xCr; se o paciente for uma mulher ou idoso o resultado ainda é multiplicado por 0,75.

              Existem ainda outros marcadores de insuficiência renal, como a cistina C e a Inulina.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
Moore. Anatomia orientada para a clínica. 4ª edição
Aires, Margarida. Fisiologia. 3ª edição

sexta-feira, 15 de maio de 2015

EM BREVE

Estou estudando e fazendo resumo da parte de hemograma, então em breve eu posto sobre a série branca e a série plaquetária ;)

Hemograma - O que você precisa saber sobre...

O hemograma é o exame laboratorial mais requerido pelos médicos na atualidade. É pedido de maneira tão rotineira que o aluno de medicina acaba por "seguir a onda" e por requerer o exame sem que, muitas vezes, saiba o porquê e qual a finalidade de o pedir. Pensando nisso, resolvi escrever este texto para que a interpretação do hemograma possa ser melhor entendida por nós, estudantes.

Tecido Sanguíneo
Para entender melhor o hemograma é preciso primeiro saber quais são os componentes do tecido sanguíneo.
O sangue é um tecido fluido, viscoso e levemente alcalino (pH = 7,4), cuja cor varia entre vermelho escuro e vermelho brilhante e corresponde a 7% do peso corporal. É classificado como tecido conjuntivo e é composto por elementos figurados, glóbulos vermelhos (eritrócitos e hemácias), glóbulos brancos (leucócitos) e plaquetas; o componente fluido corresponde à matriz extracelular e é chamado de plasma.
Realiza o transporte de nutrientes, gases (O2 e CO2), regula a temperatura corporal, mantem o equilíbrio ácido-básico, equilíbrio osmótico dos fluidos corporais e é a via de migração dos glóbulos brancos para qualquer tecido do organismo.
Uso clínico do Hemograma!
O hemograma começou a ser usado na clínica médica em 1925 pelo médico e farmacêutico alemão V. Schilling. Este exame contém informações que, juntamente com a CLÍNICA DO PACIENTE, permite ao médico chegar à conclusões diagnósticas e prognósticas das patologias.

MAS PORQUÊ SEU USO É TÃO IMPORTANTE?
O hemograma nos permite averiguar a contagem de células no sangue periférico (hemácias - série vermelha; leucócitos - série branca; e plaquetas - série plaquetária), ainda permite realizar a contagem dos tipos leucocitários, dos valores da hemoglobina, do hematócrito e ainda o cálculo dos índices hematimétricos.

ERITROGRAMA
Avalia especificamente a série vermelha pelos parâmetros de: dosagem de hemoglobina e hematócrito, número de glóbulos vermelhos e índices hematimétricos, o que permite o acompanhamentos de anemias e poliglobulias.

Índice Hematimétrico e seus significados:
VCM -> é o volume corpuscular médio, cujo cálculo é: Ht (hematócrito)/ GV (Glóbulos vermelhos). Ele indica o tamanho da hemácia.
HCM -> Hemoglobina corpuscular média, o cálculo é: Hb (hemoglobina)/ GV. Ele é dado em picograma e fornace dados sobre a coloração das hemácias.
CHCM -> concentração da hemoglobina corpuscular média, cálculo: Hb/Ht ou HCM/VCM, e também indica a coloração das hemácias, é dado em porcentagem.
RDW -> ampla distribuição celular e indica a presença de anisocitose (diferença de tamanho entre células do sangue), é dado em porcentagem.
Ht -> Hematócrito e indica o volume de hemácias em relação ao volume de sangue total, também é dado em porcentagem. É importante destacar que o mesmo número de hemácias podem conferir valores de hematócritos diferentes conforme o grau de hidratação (ou desidratação) do paciente. Assim podemos ter valores elevados do Ht em um indivíduo desidratado que tem redução do volume plasmático; e valores menores de Ht em indivíduos hipervolêmicos.

O VCM e a Hb são parâmetros analisados para averiguar presença de anemia. O VCM mede o tamanho da hemácia; valores de VCM abaixo de 80 classificam as hemácias como microcíticas, valores acima de 95 as classificam como macrocíticas e valores entre 80 e 95 as classificam como normocíticas. (Alterações no tamanho da hemácia é definida como anisocitose).

O RDW (amplitude de distribuição do tamanho das hemácias) foi introduzido como índice de anisocitose e indica o quanto da população de hemácias se desvia do tamanho médio.

HCM e CHCM reflete a concentração de Hb presente nas hemácias (cor das hemácias). Valores de CHCM abaixo de 30% refletem hipocromia, logo a concentração de Hb está abaixo do normal.

Através destes parâmetros podemos classificar as Anemias!!


Anemias!
Na classificação hematimétrica é levado em consideração os índices de cor e tamanho.


A anemia pode ser definida laboratorialmente quando o eritrograma apresenta concentração da dosagem de Hb menor que o valor padrão para a idade e gênero.

Em caso de anemia nem sempre o CHCM é diminuído, sua diminuição é mais relacionada a  casos graves de hipocromia (como na talassemia beta maior e na anemia ferropriva grave) e sua elevação acima do índice padrão está, quase sempre, relacionado ao número elevado de eritrócitos esferócitos (como na esferocitose hereditária). RDW aumentado (além do padrão) indica anisocitose!

A Avaliação quantitativa dos eritrócitos deve ser feita seguindo a sequência: tamanho (anisocitose), forma (poiquilocitose), coloração (hipo ou hipercromia) e inclusões.

A tabela abaixo apresenta algumas alterações presentes nas anemias com os termos específicos e as principais ocorrências.



A análise do sangue pode ser realizada por uma máquina, no entanto não há como substituir o exame de esfregaço sanguíneo que permite avaliar outros parâmetros que são muito importantes para classificação das anemias.


ATENÇÃO:
Quando existe suspeita de anemia hemolítica vai aparecer no hemograma sinais de estímulo acentuado à eritropoiese, como a presença de:

  • eritroblastos circulantes
  • inclusões no citoplasma das hemácias:
           > corpúsculo de Howell-Jolly (restos de cromatina celular)
           > pontilhado basófilo (restos ribossômicos, instabilidade do RNA)
           > anel de Cabot (restos de membrana nuclear)
           > corpúsculos de Pappenheimer (grânulos contendo ferro).









Curiosidades:


Referências:
Gartner, L.P. & Hiatt, J.L. Tratado de Histologia em Cores. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.
Naoum & Naoum. Interpretação Laboratorial do Hemograma.

Links para saber mais:
Ciência News
Acervo de Lâminas